Nigéria continua afectada por onda de violência
Pelo menos 43 pessoas foram mortas, quarta-feira, por homens armados no Noroeste da Nigéria, anunciou o governador do Estado de Sokoto, referindo-se em declarações à Efe ao último incidente nesta espiral de violência que atinge o país mais populoso de África.
Os homens armados invadiram várias casas em comunidades no Estado de Sokoto, disse o governador Aminu Tambuwal, através de uma declaração, poucos dias depois de quase 30 pessoas terem sido mortas a tiro em comunidades remotas do agitado Norte da Nigéria.
Pelo menos 13 pessoas foram mortas em Illela, uma cidade perto da fronteira com o vizinho Níger e a cerca de 97 quilómetros da capital do Estado, referiu, acrescentando que outras duas foram mortas em Goronyo, cerca de 76 quilómetros a Leste da capital do Estado. Os violentos ataques no Noroeste e no Centro da Nigéria já provocaram a morte de centenas de pessoas, desde o início do ano.
As comunidades mais afectadas encontram-se em áreas remotas que não têm segurança ou telecomunicações adequadas, tais como a comunidade de Goronyo, onde mais de 40 pessoas foram mortas a tiro há um mês, quando os assaltantes abriram fogo num mercado apinhado de pessoas.
Os homens armados são na sua maioria jovens do grupo étnico Fulani que tradicionalmente trabalham como pastores de gado nómadas e foram envolvidos num conflito de décadas com as comunidades agrícolas Hausa, sobre o acesso à água e à terra de pastagem, segundo as autoridades e os analistas de segurança.
Na quarta-feira, a comissão encarregada de investigar a sangrenta repressão de 2020, pelo Exército e pela Polícia, de um grande movimento de protesto em Lagos, capital económica da Nigéria, apresentou as suas conclusões ao governador daquele Estado, confirmou fonte oficial, citada pela Reuters.
No ano passado, o movimento #EndSARS contra a violência policial, baptizado em homenagem a uma unidade especial da Polícia acusada por anos de extorsão, tortura e assassínios, abalou as principais cidades do Sul do país. No seguimento dos acontecimentos, o governador do Estado de Lagos, Babajide Sanwo-Olu, decretou que uma comissão judicial independente investigasse o massacre. O gabinete do governador não divulgou o conteúdo do relatório, mas a juíza Doris Okuwobi, que chefiou a comissão, disse que 186 das 252 petições apresentadas ao painel foram consideradas para o documento final.
Insegurança alimentar
Um relatório financiado pelas Nações Unidas revela que quase 17 milhões de nigerianos sofrerão de insegurança alimentar aguda em 2022, mais 4 milhões do que há um ano, noticiou ontem a AFP.
Entre Outubro e Dezembro, mais de 12,1 milhões de nigerianos que vivem em 21 estados enfrentam insegurança alimentar crítica ou de emergência, lê-se no relatório “Cadre Harmonisé” (CH) divulgado e publicado bianualmente sob supervisão do Ministério da Agricultura da Nigéria, com apoio técnico e financeiro das Nações Unidas e Organizações Não-Governamentais (ONG).
Segundo as previsões, o total de nigerianos ameaçados de fome chegará a 16,8 milhões de pessoas entre Junho e Agosto de 2022, um aumento de mais de 4 milhões.
Este ano, o Estado de Borno (Nordeste) onde os ‘jihadistas’ mantêm acções armadas há 12 anos, é a área com o maior número de pessoas em situação de insegurança alimentar (144.914). Em 2022, só naquele Estado, esse número duplicará para 291.542 pessoas, segundo as projecções. Mais de dois milhões de pessoas fugiram da região onde as operações militares ainda estão em andamento, agora forçadas a viver em campos, em condições deploráveis.
A Nigéria, situada na África Ocidental e o país mais populoso do continente africano, com 210 milhões de habitantes, enfrenta uma insegurança generalizada.
Além do conflito com os jihadistas no Nordeste, as Forças Armadas têm ainda de combater o crime organizado, protagonizado por gangues de criminosos armados – conhecidos localmente como “bandidos” – incendiando o Noroeste e o Centro da Nigéria, saqueando e incendiando aldeias e aumentando os sequestros.
Muito dependente do petróleo, a economia nigeriana foi duramente atingida pela pandemia do novo coronavírus.
Em 2020, o país viveu os efeitos de uma segunda recessão económica nos últimos cinco anos, mas voltou a crescer nos últimos meses. Todavia, a taxa de inflação continua elevada, com a subida dos preços dos bens alimentares, com reflexos no aumento da pobreza.